OS AVANÇOS EM GRAMADO
Festival termina hoje com a premiaçãode curtase longas; evento foi melhor em algunsquesitos
O 44˚ Festival de Grama-do termina hoje com a premiação de curtas e longas no Palácio dos Festivais, às 21h. Depois de um início em alta volta-gem, com as exibições de “Aqua-rius” e “Elis”, o filme que mais se destacou dentre os concorrentes foi “O Silêncio do Céu”, do dire-tor Marco Dutra (SP), produção brasileira rodada no Uruguai e que se destaca entre os favoritos às categorias de Roteiro, Som e até Melhor Filme. Unanimidade entre críticos, a atuação de An-dreia Horta deve arrebatar o tro-féu da categoria de Melhor Atriz, o filme se mostra forte concorren-te na categoria trilha sonora.
A comédia “Tamo Junto”, de Matheus Souza (RJ), foi o filme mais simpático, tratando de ques-tões da juventude, como namoros e escolha de um rumo profissio-nal, além de recorrer a questões de metalinguagem do próprio cine-ma. O próprio diretor assumiu, na apresentação do filme, que acredi-ta ser mais necessário dialogar com os jovens. A atriz Sophie Charlotte chegou a Gramado inte-grando dois longas: “Tamo Junto” e “Barata Ribeiro, 716”, de Domin-gos de Oliveira (RJ). O humor foi uma das características de concor-rentes da mostra brasileira de lon-gas, contando ainda com “O Rou-bo da Taça”, ode à malandragem carioca, e o “El Mate”, corrosivo ao mostrar o encontro entre dois personagens díspares.
Nas questões de estrutura, al-gumas novidades foram bem-vin-das em Gramado. Uma delas foi a projeção, dentro do cinema, da chegada dos homenageados do la-do de fora, enquanto fazem sua caminhada no tapete vermelho. Isso evitou que a plateia ficasse inquieta esperando dentro da sala sem saber o que estava ocorrendo no exterior. A inspiração veio de festi-vais internacionais, como o de To-ronto, observada pelo curador Marcos Santuario, e se mostrou positiva, implementada com solu-ções visuais interessantes pela equipe da direção artística.
ACESSIBILIDADE. A atenção com portadores de necessidades espe-ciais foi ponto positivo do Festival. Isso foi visto na apresentação do curta “Carol”, de Mirela Kruel. A protagonista do documentário, Ca-rol Santos, conta sua história no filme e esteve presente no festival. Ela foi vítima da violência de um namorado, que, inconformado com o término do relacionamento, ati-rou em Carol, fazendo que ela per-desse o movimento das pernas. Para subir ao palco e falar do fil-me, ao lado da produtora Karine Emerich, ela utilizou uma rampa motorizada. “Foi uma grande sur-presa o tratamento que recebi. Um mês antes do início do Festi-val, entraram em contato comigo para saber quais as minhas ne-cessidades. Colocaram um eleva-dor adaptado para que eu subisse ao palco. Foi muito importante pa-ra mim, pois imagine o que seria eu ser carregada no colo. E te-riam de carregar minha cadeira também, que é motorizada e pesa 80 quilos. Ia ser complicado”, ava-liou. Carol é coordenadora do gru-po “Inclusivass”, que funciona jun-to à Assembleia Legislativa do RS e luta pela inclusão das mulheres portadoras de deficiências.
Apesar das iniciativas de audiodescrição que vêm aumentan-do ano a ano no evento, Carol re-clamou que ela devia se estender a todas as sessões e não apenas a algumas. Ela teve de descrever os outros curtas para o seu companheiro, Helio Passos, que é cego e lhe acompanhava na cidade. Carol também se queixou dos banheiros do Palácio dos Festivais, de difícil acesso a cadeirantes. Nos debates dos curtas gaúchos, Helio levan-tou a questão de não apenas se fa-lar sobre a acessibilidade, mas de as equipes também contratarem profissionais portadores de neces-sidades especiais.
A secretária municipal de Tu-rismo de Gramado, Rosa Helena Volk, explica que o Cine Embaixa-dor-Palácio dos Festivais é uma Sociedade Anônima da qual a pre-feitura é acionista e admite o pro-blema. Mas vem com boas notí-cias. Assim que o festival termi-nar, terá início o processo de revitalização do cinema, que leva-rá em conta todas as questões de acessibilidade, com reforma dos quatro banheiros e dos camarins. E salientou que há banheiros e acesso ao Museu de Cinema, recém inaugurado, pela galeria ao lado do Palácio. Já o acesso ao palco, ela ressalta que foi iniciati-va da organização do festival. “Du-rante o ano, como o local funciona como cinema, normalmente não se sobe lá”, observou.
Dentre as iniciativas de inclu-são, também merece nota as ses-sões com audiodescrição ao vivo do curta “Memória da Pedra” e “El Mate”, ocorrida no dia 31 de agosto, quarta-feira, no Palácio dos Festivais. Foi a primeira vez que o curta-metragem que abre a noite esteve acessível ao público cego ou com baixa visão. A produ-ção de acessibilidade foi da Ovni Acessibilidade Universal, com apoio da Fadergs e da Agade. “Nosso trabalho no Festival come-çou em 2012, com o longa “Cole-gas” e continuou nas edições se-guintes”, explicou Mimi Aragón, da Ovni. Ela comemora que a ca-da ano vem aumentando a partici-pação dos portadores de necessi-dades especiais entre a plateia, in-clusive com ônibus fretados levan-do pessoas de outras cidades até Gramado. “Não avançamos tudo o que poderíamos, mas estamos so-mando esforços”, concluiu Mimi.
Também foi possível debater in-clusão e acessibilidade em um en-contro, realizado também na quar-ta-feira, na Sociedade Recreio Gra-madense, com a Mesa “Cinema, In-clusão e Acessibilidade”. As ativi-dades complementaram uma pro-gramação paralela que contou ain-da com a exibição de “Cromosso-mo 21”, de Alex Duarte. O longa-metragem conta a história de Vitó-ria, uma jovem com Síndrome de Down que vive um romance com o sonhador Afonso, um garoto sem a síndrome. E a sessão contou com uma plateia de espectadores também com Síndrome de Down, que passaram com alegria pelo tapete vermelho.
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