Porto
Alegre, 26 de julho de 2016
Nota de Repúdio
e Pedido de Arquivamento das Denúncias Contra os Ocupantes da Secretária da
Fazenda do Estado do Rio Grande do Sul
As
entidades signatárias da presente carta vêm demandar ao Ministério Público Estadual do Rio Grande do Sul o
imediato arquivamento das denúncias feitas aos jovens que protestaram, na
defesa de direitos, especialmente o da educação, ao ocupar a Secretária da
Fazenda no dia 15 de junho de 2016. Desaprovamos veementemente a ação executada
pela instituição da Brigada Militar, sob responsabilidade do governador do
Estado, no que tange a  criminalização
desses jovens. O direito de protesto e livre manifestação está amparado na
Convenção Internacional dos Direitos Civis e Políticos da ONU, na Convenção
Americana de Direitos Humanos e na Constituição de 1988. 
No dia 15 de junho os estudantes que ocupavam suas escolas ocuparam a
Secretaria da Fazenda do Estado do Rio Grande do Sul (SEFAZ) com o objetivo de
estabelecer um canal de diálogo com os representantes do governo estadual em
relação às demandas da educação e a atual situação precária das escolas da rede
pública do estado. Da mesma forma que o movimento de escolas ocupadas ligado a
entidades estudantis também haviam realizado uma ocupação – na Assembleia
Legislativa – em prol da negociação de suas demandas e, da mesma que os
professores, naquele presente momento, também realizavam uma ocupação - no
Centro Administrativo Fernando Ferrari (CAFF) -, o movimento dos estudantes do
Comitê de Escolas Independentes (CEI), à exemplo, também resolver utilizar essa
estratégia.
Diferente da forma como as outras ocupações foram tratadas, com a
possibilidade de negociação e diálogo, a ocupação na SEFAZ foi recebida de
forma truculenta pela Brigada Militar. Além de ter sido negada a presença de um
advogado para a negociação da saída dos manifestantes que realizavam um
protesto pacífico, foi feito o uso desproporcional da força através de
agressões físicas e psicológicas por parte dos policiais – todos homens. Foram
utilizados golpes e spray de pimenta. Os jovens, que estavam todos sentados,
foram arrastados até o micro-ônibus da Brigada Militar e levados diretamente ao
DECA (Departamento Estadual da Criança e do Adolescente da Polícia Civil do Rio
Grande do Sul). 
Das 43 pessoas presentes, 10 eram maiores de idade. As 33 menores permaneceram
no DECA durante a tarde. As maiores, 8  estudantes e 2 mídias (jornalista e
cinegrafista),  foram encaminhadas à 3ºDPPA,
sendo de lá retiradas no início da noite para serem encaminhadas aos Presídio Central e Penitenciária Feminina Madre Pelletier, onde só
saíram por volta das 3h da madrugada. Hoje, essas pessoas que lutavam
pacificamente por um direito básico, a educação, estão sendo autuadas por cinco
crimes: Esbulho Possessório, Depredação de Patrimônio, Obstrução do Trabalho,
Organização Criminosa e Resistência. Os maiores, além desses crimes, também
estão sendo acusados de Corrupção de Menores.
Apontamos que a
situação foi gravíssima, pelo fato de que nem o Governador, nem o Secretário da
Educação e tampouco o Secretário da Fazenda (que estava no prédio antes da
remoção arbitrária), se dispuseram a qualquer negociação. Além disso, a
resposta conta com um caráter antipedagógico, a partir do momento em que
criminaliza jovens que seguiam o exemplo de seus professores na luta pela educação
e, que, por sua vez, receberam um tratamento diferenciado de cunho hostil, já
que somente com estes a consequência se deu na forma de uma violência
arbitrária e da criminalização do movimento.
Entendemos que esta é uma luta digna,
uma vez que o estado do Rio Grande do Sul agrega escolas em condições precárias
do ponto de vista estrutural, verbas não são repassadas, falta de merenda,
professores/as com salários defasados e parcelados, além de outras demandas do
movimento. Respeitosamente,
entendemos que os jovens não cometeram tais Atos Infracionais, ou sequer,
qualquer crime. 
Tendo isso em vista, apelamos para que o órgão
ministerial não puna a atitude cívica e cidadã dos/as estudantes, assim como
daqueles que cobriam a sua ação em termos de comunicação social. Exigimos que o
Ministério Público Estadual atue na garantia destes direitos, não dê andamento
às denúncias feitas contra os manifestantes, e arquive o inquérito policial. 
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