Dilma Rousseff – Não acho que 2013 seja um antecedente disto que está acontecendo hoje. Eu acho que 2013 é sintoma de algo que tem a ver com o que nós fizemos nos anos anteriores a 2013. Foi feita uma política de inclusão social baseada, sobretudo, em transferência de renda. Uma política baseada em transferência de renda é uma política mais rápida, porque basta a vontade política imediata, se você tiver a vontade política, é óbvio, você faz de forma bastante eficaz. O Bolsa Família e a política de valorização do salário mínimo são os dois eixos pelos quais isso é feito. E, nessa política, você tem uma redução, sem sombra de dúvida, da desigualdade. Paralelamente a essa política de transferência de renda, nós fizemos também uma política de redução da desigualdade baseada no acesso a serviços. Só que isso é mais complicado porque não é só a decisão política, tem tempo de maturação, principalmente quando se trata de ações que vão levar a mudança na rede de infraestrutura, tanto a infraestrutura social, como a infraestrutura urbana, que assegura o acesso à cidade de uma forma menos segregativa, através de meios de transporte de massa, como o metrô, ou os veículos leves sobre trilhos, os ônibus em linhas especiais. Tudo isso requer um tempo de maturação. O mesmo acontece, até de forma um pouco mais lenta, com o acesso à saúde e à educação ou mudança na segurança pública. Com uma oferta de serviço que, geralmente, tem um processo de continuidade para poder ser viabilizado, não é mudando do dia para a noite que você muda essas questões. Daí que a gente tem de ter consciência, como a gente dizia no caso do Bolsa Família, o fim da miséria é só o começo, porque o fim da miséria vai exigir uma quantidade muito grande de serviços públicos de qualidade completamente diferenciada. Em 2013 tínhamos um gargalo muito forte na área de saúde, no acesso da população aos serviços básicos de saúde. Tínhamos, e ainda temos, um problema na área da segurança pública, a violência é um fator generalizado nas grandes cidades e, não resta dúvida, ela atinge de forma mais agressiva os mais pobres. No caso da educação, a gente tinha feito uma política muito forte no acesso à educação superior, tinha aumentado o acesso à creche – mas ainda não é suficiente – e estávamos começando uma política de acesso à educação profissional. Portanto, a conclusão é: você não tem a mesma resposta quando se trata de serviços do que tem quando se trata de distribuição de renda. Os tempos são diferentes.
Acho que também já havia algo que repercute até hoje, mas que não tem a ver com impeachment, não é uma relação de causa e efeito. O que repercute até hoje? Um mal-estar imenso dos jovens da sociedade com a sua representação política, né? Tanto do ponto de vista ético e moral, na questão da corrupção, quanto do ponto de vista de uma certa estranheza, tanto é que, quando apoiavam uma pessoa, diziam “Me representa, me representa!”. Tem aí uma crise de representação, que eu acho que não é só no Brasil, que ocorre em todos os Países e tem a ver com uma questão mais de fundo, que é a relação entre democracia, representação e globalização. Acho que aí tem outra coisa que há que pensar. Mas, então, acho que sintetiza-se nisso: as pessoas, quando atingem certo patamar, querem mais, elas não querem menos ou igual, elas querem mais. E essa é uma questão política muito importante de ser entendida. O que se pedia para nós ali, em 2013, era mais, mais serviços, melhores serviços, no sentido de quantidade e de qualidade. Então, ali, você teve esse marco. Não acho que isso é uma obra, uma manipulação das elites. Isso é uma realidade, num País que teve um processo de segregação secular, por mais que você faça em treze anos, você não resolve essa questão. E justamente as pessoas que melhoraram, elas querem mais. Essa eu acho que é uma força da cidadania.
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